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Humanities LibreTexts

3.14: O homem nu

  • Page ID
    55193
    • Severino J. Albuquerque, Mary H. Schil, & Claude E. Leroy
    • UW-Madison
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    Leitura IV- O homem nu

    Fernando Sabino

    Ao acordar, disse para a mulher:

    -Escuta, minha filha:1 hoje é dia de pagar a prestação da televisão; vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

    -Explique isso ao homem – ponderou a mulher.

    -Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice2; gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar – amanhã eu pago.

    Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara3 lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse4 completarnente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

    Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e depois de tocá-la ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos.

    -Maria! Abre ai, Maria. Sou eu – chamou, em voz baixa.

    Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

    Enquanto isso, ouvia lá em baixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentarnente os andares… Desta vez era o homem da televisão!

    Não era. Refugiado no lance de escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

    -Maria, por favor! Sou eu!

    Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo … Tornado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um “ballet” grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lance de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fechou e ele começou a descer.

    -Ah, isso é que não!5 – fez o homem nu, sobressaltado.

    E agora? Alguém lá em baixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo; podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe6 de seu apartamento; começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka; instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime de Terror!

    -Isso é que não – repetiu, furioso.

    Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.

    Respirou fundo, fechando os olhos para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá em baixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar.” Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

    -Maria? Abre esta porta! – gritava, desta vez esmurrando a porta ja sem nenhuma cautela.

    Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

    -Bom dia, minha senhora! – disse ele, confuso. – Imagine que eu…

    A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito: “Valha-me Deus! O padeiro está nu!” E correu ao telefone para chamar a rádio-patrulha: Tem um homem pelado aqui na porta!

    Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

    -É um tarado!

    -Olha, que horror!

    -Não olha, não! Já para dentro7, minha filha!

    Maria, a esposa do infeliz, finalmente abriu a porta para ver o que era. Ele entrou como um rojão8 e vestiu-se precipitadamente, ser nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora9, bateram na porta.

    -Deve ser a policia – disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

    Não era: era o cobrador da televisão.

    1 minha filha [my dear]

    2 dá um ar de vigarice [it will look as though we’re trying to put one over]

    3 já se trancara [had already locked herself]

    4 Como estivesse [Since he was]

    5 Ah, isso é que não! [Oh, no, not that!]

    6 cada vez para mais longe [farther and farther]

    7 Já para dentro [Get inside]

    8 entrou… rojão [he rushed in]

    9 restabelecida a calma lá fora [things having calmed down out there]

    Vocabulary- Vocabulário

    • acuado, -a [trapped]
    • agarrar-se a [to seize, grasp]
    • aliviado, -a [relieved]
    • apanhar [to get; pick up]
    • apertar [to tighten; press]
    • apoiar [to support, sustain]
    • apoiar-se em [to lean on]
    • aproximar-se (de) [to come close, draw near]
    • o ar [appearance; air]
    • arriscar-se [to risk, take a chance]
    • aterrorizado, -a [terrified]
    • atirar [to throw; shoot]
    • atirar os braços para cima [to throw one’s arms up]
    • atrás de [behind, in back of]
    • o barulho [noise]
    • o batente [doorpost, jamb]
    • bater [to knock; beat]
    • o botão [button]
    • cansar-se [to become tired, grow tired]
    • o cobrador [bill collector]
    • com cautela [carefully]
    • confuso, -a [confused]
    • cumprir [to fulfill, complete]
    • dar com [to come upon, see]
    • despir (dispo) [to undress]
    • desvairado, -a [crazy, wild]
    • dirigir-se a [to go to]
    • em palo [stark naked]
    • o embrulho [package]
    • encetar [to start, begin]
    • enxugar [to dry, wipe]
    • esconder-se [to hide]
    • esmurrar [to beat, pound]
    • estarrecido, -a [appalled, shocked]
    • o estrondo [slam, bang]
    • ferver [to boil]
    • fundo, -a [deep]
    • a gritaria [shouting]
    • o grito [shout]
    • impulsionado, -a [driven, blown]
    • instaurar-se [to be established]
    • interromper [to interrupt]
    • inutilmente [uselessly, in vain]
    • o lance de escada [flight of stairs]
    • largar [to release, let go]
    • lento, -a [slow]
    • mal [scarcely]
    • o mármore [marble]
    • na certa [surely, certainly]
    • o nó do dedo [knuckle]
    • nu, nua [naked, nude]
    • ofegante [panting, out of breath]
    • o padeiro [baker; bakery delivery person]
    • o parapeito [window sill]
    • o passo [step]
    • dar dois passos [to take a couple of steps]
    • pelado, -a [bare, naked]
    • o pesadelo [nightmare]
    • a pirueta [pirouette]
    • o ponteiro [pointer, hand (of a dial)]
    • a prestação [installment, payment]
    • Que horror! [How horrible!]
    • o ruído [noise]
    • segurar [to hold]
    • o serviço [service]
    • porta de serviço [service entrance]
    • sobressaltado, -a [startled]
    • soltar [to utter; release, let loose]
    • a subida [ascent]
    • súbito, -a [sudden, unexpected]
    • de súbito [suddenly]
    • o suor [sweat, perspiration]
    • o tarado [degenerate, pervert]
    • trancar-se [to lock oneself in]
    • o traseiro [rear end]
    • vagaroso, -a [slow]
    • Valha-me Deus! [Good Heavens!]
    • verdadeiro, -a [true, real]
    L4 Pratice- Prática

    L4.1 A. Para responder em português:

    1. Por que o marido não queria atender a porta?
    2. O que o marido começou a preparar uma vez que não pôde entrar no banheiro?
    3. Por que o marido despiu o pijama?
    4. Como é que ele ficou fora do apartamento e completamente nu?
    5. O que o marido ouviu quando ele bateu na porta para chamar sua mulher?
    6. O que aconteceu quando ele se escondeu dentro do elevador?
    7. Como é que ele fez parar o elevador?
    8. Descreva o que aconteceu quando ele bateu de novo na porta do apartamento.
    9. O que ele fez logo depois de entrar no apartamento?
    10. Afinal quem veio bater na porta?

    L4.1 B. Para ler em voz alta, substituindo o presente pela forma correta do passado dos verbos (imperfeito ou pretérito).

    1. Despe o pijama e dirige-se ao banheiro.
    2. Põe a água a ferver e vai apanhar o pão Iá fora.
    3. Ele está completamente despido e olha de um lado para outro antes de sair.
    4. Mal seus dedos tocam no pão, fecha-se a porta atrás de si.
    5. Chama à porta mas ninguém vem abrir.
    6. Quanto mais bate, mais silêncio se faz lá dentro.
    7. Mas ele não tem tempo de insistir; é só o tempo de entrar no elevador para se esconder.
    8. Sai do elevador, aproxima-se do seu apartamento novamente, e começa a bater na porta e a gritar.
    9. A velha do apartamento vizinho olha para ele e vai chamar a polícia.
    10. Quando sua mulher abre a porta ele entra precipitadamente e se veste.

    Query \(\PageIndex{L4.1 C. }\)


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